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domingo, 27 de dezembro de 2009

18 de novembro de 1992
Autópsia da sombra
O depoimento terrível de um
ex-sargento que transitava no
mundo clandestino da repressão
militar resgata parte da
história de uma guerra suja
Marival Dias Chaves do Canto tem 45 anos, é moreno, musculoso e está bem conservado para a idade. Nascido na Bahia, morou muitos anos em São Paulo e hoje é dono de um modesto negócio em Vitória, no Espírito Santo. Visto à distância, é um cidadão como qualquer outro. De perto, tem algumas peculiaridades. Chaves, como é conhecido, é um homem tenso, habituado a represar suas emoções. Usa um linguajar que mistura termos policiais e políticos. No seu vocabulário, aparecem com freqüência palavras como "subversivos", para designar os militantes de organizações de esquerda, ou "elemento", quando se refere a uma pessoa qualquer. Na semana passada, Chaves encerrou uma longa série de depoimentos a VEJA e, nas páginas do seu relato, constata-se que Chaves está mesmo longe de ser um cidadão tranqüilo. Ele é o primeiro ex-agente dos órgãos de informação do Exército a contar tudo o que sabe, com os terríveis e esclarecedores detalhes sobre a barbárie dos porões dos anos de chumbo da ditadura militar.
Há mais de uma década, o ex-sargento Chaves vem amadurecendo sua decisão de falar. Quando ainda transitava pelo ventre da besta, entrando e saindo das masmorras de tortura e gastando horas lendo depoimentos de presos políticos. Chaves preocupava-se em memorizar e anotar detalhes. No mês passado, entendeu que a decretação do impeachment do presidente Fernando Collor mudara o país e, em especial, as Forças Armadas, que se mantiveram na legalidade de meras espectadoras da crise. Resolveu contar tudo. Há duas semanas, chamou a mulher e as duas filhas, de 16 e 18 anos, para dizer pela primeira vez que atuava na repressão militar. No início, elas reagiram assustadas. Mais adiante, emocionadas, acabaram estimulando sua decisão de falar. Uma de suas filhas havia saído às ruas para pedir o afastamento de Collor, engrossando o movimento dos caras-pintadas e relembrando os anos rebeldes, e só depois soube que o pai participara ativamente daquele período. "Elas acharam que era importante contar tudo para passar essa parte da História a limpo", afirma Chaves. Tinham razão.
VISITA À PONTE - O dramático relato do ex-sargento sobre a vida e morte nos porões não tem a abrangência cronológica dos vinte anos de ditadura, muito menos o peso do relato de alguém que coordenou as ações e, portanto, contava uma visão global do assunto. A partir da derrubada do presidente João Goulart em 1964, começou a ser deflagrada uma guerra suja e surda no Brasil. Foi menos violenta do que na Argentina, onde houve quase 10.000 desaparecidos. Mas o ciclo da ditadura no Brasil colocou em ação 13.000 militantes de esquerda, distribuídos em 29 organizações que pegaram em armas e outras 22 que optaram pela chamada resistência pacífica. Do outro lado da trincheira, havia pelo menos 400 militares envolvidos diretamente em operações clandestinas. Nesse embate, terroristas assaltaram bancos, seqüestraram e assassinaram. Do outro lado, prenderam pessoas ilegalmente, torturaram e mataram. No total, mais de 4.600 pessoas tiveram seus direitos políticos cassados, cerca de 10.000 foram exiladas e, na lista dos desaparecidos, existem 144 nomes.
O depoimento de Chaves é um relato parcial. Sua importância reside em mostrar por dentro, e pela primeira vez, a rotina da repressão política. Cuidadoso, o ex-sargento falou apenas do que tem certeza e calou sobre as dúvidas. Na tarde de sexta-feira da semana passada, chegou a tomar um avião para São Paulo e ir à Rodovia SP-255, que dá acesso à cidade de Avaré, no interior do Estado. Ali, há duas pontes. Chaves queria vê-las para saber de qual delas eram jogados os corpos de presos assassinados. Estava satisfeito com seu desabafo. "Foi a cúpula militar que se beneficiou com cargos e funções na época da repressão", afirma. "A grande maioria silenciosa queria o Exército profissional, como ele é hoje."
Nos porões, Chaves garante que nunca torturou nem teve envolvimento direto com assassinatos ou ocultação de cadáveres. "Se tivesse feito isso, não estaria dando esse depoimento", diz. Sua missão era avaliar os depoimentos dos presos e cruzá-los com as informações repassadas ao Exército pelos militantes de esquerda que haviam se convertido em informantes. Em 1965, entrou para o Exército, servindo no Arsenal de Guerra em São Paulo. Três anos mais tarde, já sargento, teve o primeiro contato com atividades de informação. "Ficamos sabendo que a vanguarda Pós-Revolucionária, do capitão Carlos Lamarca, estava pintando um canhão com as cores das Forças Armadas para usar numa ação terrorista", relembra Chaves. Depois de fazer cursos de operação na selva, Chaves foi para o Destacamento de Operações de Informações, o DOI, chefiado pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Começava seu convívio com o porão.
PEDIDO DE DEMISSÃO - O ex-sargento Chaves trabalhou no DOI paulista até 1976. Dali, mudou-se para Imperatriz, no Maranhão, onde servia num Batalhão de Infantaria da Selva. De Imperatriz, passou por Manaus, até ser destacado para servir em Brasília, no Comando Militar do Planalto, em 1980. No ano seguinte, Chaves, passou para o Centro de Informações do Exército, que comandava as operações do porão. Nessa época, chegou a ser destacado para fazer a segurança do então ditador da Argentina, Leopoldo Galtieri, durante uma visita ao Brasil. Em 1985, tomou uma decisão rara na caserna. Pelos trâmites burocráticos normais, encaminhou uma correspondência pedindo sua demissão do Exército. "Foi duro. Perdi noites de sono, caminhando pela casa, até resolver que não era mais possível suportar aquela pressão", conta. Com sua demissão, Chaves renunciou a mais de vinte anos de sua carreira militar e perdeu todos os benefícios que recebem os militares quando passam para a reserva. Se tivesse permanecido, seria capitão. Hoje, Chaves é um ex-sargento, com a vantagem de que não pode ser punido pelas suas revelações.
A lei da barbárie
Num relato sobre a selvageria do
porão,
o ex-sargento conta como
eram mutilados, esquartejados e
ocultados os corpos de presos políticos

Há um ano, o editor Expedito Filho conversou pela primeira vez com o ex-sargento Marival Dias Chaves do Canto, que trabalhou dezessete anos como agente do Destacamento de Operações Internas, o DOI-Codi, em São Paulo, e do Centro de Informações do Exército, em Brasília. Há três semanas, Chaves, especializado em análise de informações, decidiu enfim revelar tudo o que sabe sobre prisão, tortura, assassinato e desaparecimento de cadáveres de presos políticos. Foram mais de vinte horas de entrevista, cujos principais trechos são publicados a seguir:
VEJA - Como eram mortos os presos políticos?
CHAVES - Sei que em São Paulo alguns morriam na tortura. Os que resistiam eram liquidados pelos agentes da repressão política com uma injeção usada para matar cavalos de até 500 quilos. A injeção era aplicada na veia do preso político, que morria na hora. Quem já assistiu a uma cena dessas sabe que é uma das coisas mais grotescas e repugnantes que se pode fazer a um ser humano. Eles matavam e esquartejavam. Agentes que estiveram numa casa mantida pelo Centro de Informações do Exército em Petrópolis, no Rio de Janeiro, me contaram que os cadáveres eram esquartejados, às vezes até em catorze pedaços, como se faz com boi num matadouro. Era um negócio terrível. Eles faziam isso para dificultar a descoberta e a identificação do morto. Cada membro decepado era colocado num saco e enterrado em local diferente. A casa de Petrópolis foi onde o Centro de Informações do Exército mais matou presos e ocultou cadáveres. Os militantes detidos em diversas regiões do país eram enviados dos Estados diretamente para Petrópolis.
VEJA - Quantas casas de tortura e morte eram mantidas pelo Centro de Informações do Exército?
CHAVES - Do final da década de 60 até o início dos anos 70, havia uma casa no bairro de São Conrado, no Rio. Depois, por razões de segurança, mudou-se o centro de tortura e morte para Petrópolis. Eram levados para lá os presos condenados à morte, mas alguns conseguiram sobreviver. Em 1972, o II Exército, em São Paulo, montou os seus centros clandestinos de tortura e assassinatos. Durante um curto período, o Destacamento de Operações de Informações, o DOI, utilizou um sítio na região sul de São Paulo. Ali foram assassinados Antônio Bicalho Lana e a sua companheira Sônia Moraes, ambos da Ação Libertadora Nacional, a ALN.
VEJA - Mas a versão oficial é de que Lana e Sônia teriam morrido durante um tiroteio...
CHAVES - É mentira. Eles foram torturados e assassinados com tiros no tórax, cabeça e ouvido. Os cadáveres foram colocados no porta-malas de um carro e levados até o bairro de Santo Amaro, na Zona Sul de São Paulo. Ali, encenou-se a farsa do tiroteio para simular a morte deles.
VEJA - Depois de abandonar esse sítio, o Destacamento de Operações de Informações abriu outro em São Paulo?
CHAVES - Sim. Era uma época de matança febril. No final de 1973, o DOI usou uma casa no bairro do Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo. Nesse período montou outro centro clandestino na estrada de Itapevi. Entre 1965 e 1966, funcionou ali uma boate chamada Querosene, que pertencia ao irmão do então subtenente Carlos, fundador da Operação Bandeirantes, a Oban. Só em 1975, por questões de segurança, o cárcere de Itapevi foi substituído por uma fazenda, na beira da Rodovia Castello Branco, a 30 quilômetros de São Paulo. A fazenda era de um amigo do major do exército André Leite Pereira Filho.
VEJA - Como eram equipados os centros de matança?
CHAVES - Eles tinham as coisas de uma casa normal, além dos aparatos de repressão. Nas casas do Ipiranga e da estrada de Itapevi, havia até grilhões para acorrentar os pés e as mãos dos presos às camas e a blocos de cimento.
VEJA - A ocultação dos cadáveres era uma operação improvisada ou havia algum plano?
CHAVES - Matar subversivos era uma atividade altamente profissional. Nas casas de São Paulo, havia uma equipe especializada na ocultação dos cadáveres. Os agentes sabiam exatamente o que fazer. Primeiro, amputavam as falangetas dos dedos, para evitar que os mortos fossem reconhecidos através das impressões digitais. Depois, amarravam as pernas para trás, de que forma que o corpo ficasse reduzido à metade, e esfaqueavam a barriga. O esfaqueamento era para evitar que o corpo, se jogado num rio, viesse à tona algum tempo depois. Eles também colocavam o corpo dentro de um saco e amarravam-no num concreto, de 40 a 50 quilos, para garantir que o corpo ficaria no fundo do rio.
VEJA - Há dezenas de famílias que até hoje não sabem onde encontrar os corpos dos seus parentes. O senhor tem idéia de onde eram enterrados?
CHAVES - Tenho. Boa parte dos mortos não está sob a terra mas sob a água. Se alguém fizer uma busca no rio debaixo de uma ponte que fica na estrada que liga a cidade de Avaré, no interior de São Paulo, à Rodovia Castello Branco, poderá achar muitos corpos. Existe ali um cemitério debaixo d'água.
VEJA - O senhor sabe identificar alguns esaparecidos que estejam no rio de Avaré?
CHAVES - Conheço a identidade de oito deles, todos do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro - o antigo PCB. Boa parte deles caiu nas mãos da repressão durante a Operação Radar.
VEJA - O que foi essa Operação Radar?
CHAVES - Foi uma grande ofensiva do Exército, iniciada em 1973, para dizimar o PCB. A Operação Radar culminou com a apreensão da gráfica do jornal Voz Operária, do PCB.
VEJA - Foi nessa operação que parte do Comitê Central do PCB foi capturada?
CHAVES - Sim, e depois jogada no rio de Avaré. É o caso de Hiram de Lima Pereira, interrogado em Itapevi, e de Luís Inácio Maranhão Filho, preso em São Paulo em 1974. Levado para Itapevi, Maranhão Filho morreu com a injeção para matar cavalo. João Massena Melo é outro. Também está no rio e morreu com a injeção para cavalo. Orlando Bonfim Júnior, da cúpula do PCB, está no rio de Avaré. Bonfim foi preso no Rio pelo Destacamento de Operações de Informações de São Paulo e levado para o cárcere na Rodovia Castello Branco. Outro que está no rio é Elson Costa, assassinado em 1975. Ele era o encarregado da seção de agitação e propaganda do partido. Na casa de Itapevi, foi interrogado durante vinte dias e submetido a todo tipo de tortura e barbaridade. Seu corpo foi queimado. Banharam-no com álcool e tocaram fogo. Depois, Elson ainda recebeu a injeção para matar cavalo. O corpo de Itair José Veloso também foi jogado da ponte. Ele foi preso no Rio, pelo DOI de São Paulo. Era o inverno de 1975 e o que o levou à morte foi banho de água gelada. Morreu de choque térmico.
VEJA - Por que o DOI de São Paulo fazia prisões no Rio?
CHAVES - Durante a Operação Radar, o DOI de São Paulo passou a fazer uma série de operações no Rio de forma absolutamente clandestina e ilegal. O Rio não era área de jurisdição do DOI de São Paulo.
VEJA - Como era a rivalidade entre os órgãos de informação do Exército, da Marinha e da Aeronáutica?
CHAVES - Existia uma rivalidade grande entre o Centro de Informações do Exército e o Centro de Informações da Marinha, o Cenimar. O Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica, o Cisa, chegou a juntar-se ao Exército numa campanha contra os arapongas da Marinha. Era uma confusão.
VEJA - Voltando ao rio de Avaré. O senhor falou em oito nomes, mas contou só seis.
CHAVES - Um é Jayme Amorim de Miranda, também preso na Operação Radar, numa das incursões do DOI de São Paulo ao Rio. Foi transferido para Itapevi. Seu irmão Nilson Miranda, que era secretário-geral do PCB de Porto Alegre, estava preso no Ipiranga. Um não sabia onde estava o outro. O Nilson sobreviveu. O último corpo que sei ter sido jogado da ponte é o de José Montenegro de Lima. Mas esse é um caso especial.
VEJA - Especial por quê?
CHAVES - Porque mostra que dentro dos órgãos de repressão também havia uma quadrilha de ladrões. Logo depois da invasão da gráfica do Voz Operária, Montenegro recebeu do partido 60.000 dólares para recuperar uma estrutura de impressão do jornal. Uma equipe do DOI prendeu Montenegro, matou-o com a injeção, e depois foi na sua casa pegar os 60.000 dólares. O dinheiro foi rateado na cúpula do DOI.
VEJA - Até agora o senhor falou de gente presa no Rio e levada para São Paulo. E no sentido inverso?
CHAVES - Também havia. É o caso de Issami Okano, da ALN, e de Walter de Souza Ribeiro, do PCB. Também morreram em Petrópolis David Capistrano (pai do candidato à prefeitura de Santos pelo PT, David Capistrano Filho) e José Romam, ambos do PCB. O major Brand chefiava a equipe que os prendeu. Capistrano foi levado para o Rio. Ambos foram mortos em Petrópolis, onde a prática de ocultação dos corpos era através do esquartejamento. Foi o caso também de Ana Rosa Kucinski e seu marido, Wilson Silva. Foram delatados por um cachorro, presos em São Paulo e levados para a casa de Petrópolis. Acredito que seus corpos também foram despedaçados.
VEJA - O que eram os "cachorros"?
CHAVES - Era assim que chamávamos os infiltrados. Os militantes de grupos. de esquerda que colaboravam com a repressão, contando os planos das suas organizações e delatando seus companheiros.
VEJA - O senhor coordenava os cachorros?
CHAVES - Não. Meu trabalho consistia em fazer a  análise de informações. Eu lia os depoimentos de presos políticos tomados sob tortura e examinava as informações enviadas pelos nossos infiltrados no PCB, na ALN, no PC do B e na VAR-Palmares. Também fazia coleta de dados, investigações, vigilância e escuta telefônica. Quem coordenava os cachorros era um oficial. Tivemos o doutor Patrício e o doutor Jairo, que conheço só pelos codinomes.
VEJA - O senhor conheceu algum infiltrado?
CHAVES - Conheci vários. Severino Teodoro de Mello, do PCB, João Henrique Ferreira de Carvalho, o "Jota", da ALN. Sabia também de três infiltrados do PC do B. Eram o Luciano Rosa de Siqueira, o advogado Hamilton de França e o médico Fiúza de Mello. Todos trabalhavam para o Exército.
VEJA - Como se convencia esses militantes a fazerem espionagem para o Exército?
CHAVES - Não havia um modelo. Teodoro de Mello, por exemplo, foi preso em 1974 e levado para Itapevi. De lá, foi transferido para outro cárcere, na cidade de São Paulo. Depois de interrogado, ele assinou um contrato de trabalho e recebeu uma importância em dinheiro. Não me lembro quanto.
VEJA - Como foi a cooptação de Luciano de Siqueira, do PC do B?
CHAVES - Luciano virou cachorro numa operação do Centro de Informações do Exército em Pernambuco, que visava desmantelar a Ação Popular, a AP, e o próprio PC do B. Nessa operação, ele foi preso, torturado e virou infiltrado. Em 1977, quando o general Sylvio Frota foi demitido do Ministério do Exército, o Centro de Informações do Exército abandonou todos os cachorros e só restabeleceu contato com eles em 1982. Participei desse recontato, que foi chefiado pelo Paulo Malhães. Não estive pessoalmente com Luciano, mas sei que ele morava no bairro Janga, próximo a Olinda, Pernambuco.
VEJA - Que tipo de informação os cachorros passavam?
CHAVES - O Luciano Siqueira fez várias tarefas. Foi ele quem permitiu a prisão de muita gente da AP e do PC do B no Nordeste. Em 1982, quando o PC do B estava lançando candidatos a deputados pelo PMDB, ele fez relatos detalhados sobre essas reuniões. Quando estava em São Paulo, participando de reuniões do partido, ele em coordenado pelo coronel Ênio da Silveira. Já o Teodoro de Mello, do PCB, foi quem elucidou uma série de dúvidas durante a Operação Radar. Ele ajudou a identificar muita gente que só conhecíamos pelo nome de guerra. Com isso, descobrimos que era gente graúda, da direção do partido. Mello foi um divisor de águas. A partir de suas informações, foi possível prender, torturar e assassinar vários comunistas.
VEJA - O CIE dava algum tipo de proteção aos cachorros?
CHAVES - Claro. Às vezes até os companheiros dos cachorros se beneficiavam disso. Dou um exemplo. O Alanir Cardoso, ex-preso político, até hoje diz que Luciano Siqueira não era infiltrado porque não contou que tinha um encontro com Alanir marcado para o dia seguinte à sua prisão. Só que se prendêssemos Alanir ficaria evidente que Luciano era um infiltrado.
VEJA - Mas não havia segurança direta para os cachorros?
CHAVES - Havia. Em 1975, Teodoro de Mello viajou acompanhado por uma equipe de agentes do Destacamento de Operações de Informações, chefiada pelo coronel Ênio da Silveira, até Rivera, no Uruguai. Fiz contato pessoal com Mello durante o trajeto. Sozinho, ele poderia ter problemas com autoridades no sul, já que era procurado por toda parte.
VEJA - Não seria mais prático deixar Mello no Brasil?
CHAVES - Ele tinha de sair do país porque nessa fase o PCB estava sofrendo muitas baixas em função da repressão. Era perigoso que ele continuasse no Brasil. Ele era infiltrado do Destacamento de Operações de Informações e poderia ser preso por um outro órgão, como o Cenimar da Marinha, ou o Dops. Na Argentina, ele se encontraria com o dirigente comunista Armando Ziller e depois iria para a União Soviética. Em Moscou, trabalhou como secretário de Luís Carlos Prestes, secretário-geral do partido, e chegou a mandar de lá cartas para o coronel Ênio da Silveira, relatando os planos dos dirigentes comunistas brasileiros.
VEJA - Havia algum cachorro que trabalhasse tão bem a ponto de servir como modelo?
CHAVES - Sim, o João Henrique de Carvalho, o "Jota". Ele deu o tiro de misericórdia na ALN e em outras organizações que tinham ligações com a ALN. Por seu trabalho, Jota era citado pela antiga Escola Nacional de Informações como modelo de infiltrado.
VEJA - Jota contribuía diretamente para a morte de alguns de seus companheiros?
CHAVES - Sem dúvida. A delação dele permitiu a eliminação de pelo menos umas vinte pessoas. Ele é responsável pela morte de Antônio Bicalho Lana e sua mulher, Sônia Moraes. Também delatou Issami Okano, de ALN. A partir de 1973, Jota delatou todos os comandos da ALN. Foi por causa do seu trabalho que Wilson Silva e sua mulher, Ana Rosa Kucinscki, foram presos, torturados e mortos.
VEJA - O senhor tem alguma informação sobre a morte do jornalista Wladimir Herzog, em 1975?
CHAVES - Quem pode esclarecer tudo sobre a morte de Herzog é o major André Leite Pereira Filho. Ele era o chefe das equipes de interrogatório, inclusive da que matou Herzog.
VEJA - O senhor sabe o paradeiro do ex-deputado Rubens Paiva?
CHAVES - Ele foi levado por um destacamento do I Exército para a casa de Petrópolis, onde o mataram. Usaram o método de cortar o corpo aos pedaços e enterrar em locais diferentes.
VEJA - Mas Amilcar Lobo, o médico do Exército que costumava tratar dos torturados, garante que atendeu Rubens Paiva no quartel da Polícia do Exército do Rio de Janeiro...
CHAVES - A ex-guerrilheira Inês Etienne já desmentiu Amilcar Lobo. Ele pode ter visto Rubens Paiva vivo na Polícia do Exército, mas ele morreu em Petrópolis. Todo mundo sabe que Amilcar Lobo atendia os torturados na casa de Petrópolis. Além disso, duas pessoas participaram do episódio Rubens Paiva: os irmãos Jacy e Jurandyr Ochsendorf e Souza.
VEJA - É verdade que alguns desaparecidos foram enterrados numa fazenda em Rio Verde, no interior de Goiás?
CHAVES - Márcio Beck Machado e Maria Augusta Thomaz, ambos do Movimento da Libertação Popular, o Molipo, foram mortos e enterrados numa fazenda de Rio Verde. Grupos de direitos humanos estavam próximos de chegar ao local onde eles estavam enterrados. Mas o Centro de Informações do Exército soube da atividade dos grupos de direitos humanos e, através do major Leite Pereira, montou uma equipe para desenterrar os cadáveres e sumir com os corpos. Só o major pode dizer onde os dois estão hoje.
VEJA - Há muita mentira sobre o destino de presos políticos?
CHAVES - Acho que nunca se mentiu tanto nem se cometeu tanta atrocidade. Há inúmeros exemplos. A repressão fez noticiar que João Batista Franco Drummond, do PC do B, morrera num atropelamento. Mentira. Ele morreu no Departamento de Operações de Informações do II Exército. Foi torturado, escapou da segurança, subiu numa torre de transmissão e de lá voou para a morte. Eduardo Leite, da Ação Libertadora Nacional, foi preso em 1970 pela equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury e ficou na casa da morte de São Conrado. Depois, foi transferido para São Paulo e assassinado. Para despistar, fizeram um teatrinho.
VEJA - O que eram esses teatrinhos?
CHAVES - O preso morto era levado para um local público, onde equipes do DOI simulavam um tiroteio com mortes. Na hora de levar o "corpo" para o IML, faziam-se substituições. O agente que se fingiu de morto era substituído pelo corpo do preso. No IML o legista Harry Shibata e outros legalizavam a morte em combate.
VEJA - Não havia entre os agentes algum comentário de repúdio a essa matança, alguma indignação?
CHAVES - Pelo contrário. Os comentários eram ufanistas. No caso da prisão de Antônio Bicalho Lana houve vibração. Na repressão existiam dois tipos de pessoa. O primeiro, com vocação para matar, inspirado pelo ódio. O outro, não tinha vocação para o crime, mas estava impregnado pela doutrina da segurança nacional. Esses matavam por achar que estavam salvando o país do comunismo.
VEJA - Como o senhor se sentia diante disso?
CHAVES - Muito mal. Cheguei a passar muitas noites sem dormir. Mas procurava levar uma vida normal. Anotava alguns relatos em folhas de papel e ficava pensando no dia em que contaria tudo. Eu era um homem acuado. Não tinha amigos e não podia desabafar sequer com minha mulher. Ao acordar, enfrentava a mesma rotina. Era um horror.
VEJA - Como se comportavam os que comandavam a repressão? Eram pessoas violentas no dia-a-dia?
CHAVES - O coronel Ênio da Silveira era extremamente violento. Para ele, a doutrina de segurança nacional estava acima de qualquer coisa. Ele tinha curso de todos os níveis na área de informação. Com os comandados, era até gentil. Mas quando queria, era duro e enérgico. Suicidou-se em 1986. O coronel Paulo Malhães, que chefiava contatos com os infiltrados, rezava pela mesma cartilha. Ele esteve no Chile, onde interrogou e torturou brasileiros e chilenos. Já o coronel Fred Perdigão, que pertencia ao Centro de Informações do Exército desde a sua época de capitão, tinha influência suficiente no porão para viver levando presos de São Paulo para Petrópolis. Ele participou do desaparecimento de Ana Kucinski e Wilson Silva.
VEJA - Havia um pacto de silêncio entre matadores e torturadores?
CHAVES - Depois de cada caso, na hora do almoço, e durante viagens em quartos de hotel, os agentes comentavam o que tinha ocorrido. As conversas eram simuladas e ninguém dizia claramente: eu matei.
VEJA - Nenhum agente ameaçou sair do Exército e contar tudo?
CHAVES - O sujeito que durante a repressão tentasse se afastar corria o risco de ser justiçado. Um agente, que conheço só pelo codinome de "Júnior", foi afastado da seção de investigações por tentar extorquir dinheiro do jornalista Bernardo Kucinski, irmão de Ana, em troca de informações sobre o paradeiro dela. A seção de investigação pensou em justiçá-lo porque ele disse que iria procurar a Comissão de Justiça e Paz de São Paulo para denunciar fatos sobre a subversão.
VEJA - Por que o senhor resolveu falar?

CHAVES - As atividades de combate à subversão aos poucos foram me dando nojo, enjôo, náuseas, vômitos, tudo que você pode imaginar. Eu via as coisas acontecerem, discordava e não podia me manifestar. O regulamento disciplinar do Exército era muito rígido. Existia ainda a norma geral de ação, que impedia o integrante do órgão de informação de se manifestar ou discutir uma ordem. Se deixasse de cumprir, ocorriam punições e, em seguida, a pecha de contrário à Revolução de 64. Não fui formado para esse tipo de atividade. Fui cooptado e quando acordei estava envolvido. O próprio sistema procurava comprometer os envolvidos. O medo da repressão era muito grande. Eles criavam símbolos na própria força para mostrar que ninguém poderia reagir. Matar o capitão Carlos Lamarca, por exemplo, foi questão de honra. Por isso, da mesma forma que eu, muita gente acabou ficando, apesar de discordar. Em 1985, senti que era hora de me afastar porque os governos militares tinham chegado ao fim. Era a hora de me afastar sem me comprometer.
VEJA - O senhor acha que não se comprometeu?
CHAVES - Se tivesse matado alguém não faria este depoimento. É claro que meu trabalho, e aí faço mea-culpa, contribuiu muito para causar esses males. Há pessoas honestas que participaram da repressão e não concordavam com aquela violência insana. Mas até hoje não têm coragem de contar o que sabem, que a única lei do porão era a barbárie.
VEJA - O senhor se considera um democrata?
CHAVES - Nosso país só será grande vivendo uma profunda democracia. Eu estive dentro dos porões da repressão e sei o que uma ditadura sangrenta significa. E espero que esse depoimento contribua para o aprimoramento da democracia.
VEJA - Se uma entidade de defesa dos direitos humanos o procurar para falar sobre desaparecidos, o senhor irá colaborar?
CHAVES - Estou disposto a ajudar em todos os sentidos. Quero prestar um serviço ao país.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

DESEJAMOS A TODOS UM PRÓSPERO ANO NOVO DE 2010 , REPLETO DE REALIZAÇÕES PESSOAIS ESTENDIDO A TODA FAMÍLIA.
PELA CORAGEM COMBATIVA EM  DEFESA DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
QUE CADA UM POSSA FAZER A SUA PARTE ONDE ESTIVER E , EM QUE SITUAÇÃO SE ENCONTRE


ESTEJAM EM PAZ


I.D.D.P.H.  - INSTITUTO DE DEFESA DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
ANDRE
CEL 9606-7642

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

domingo, 13 de dezembro de 2009

MY LAI - MASSACRE AMERICANO pereceram 504 civis vietnamitas

Há cada vez mais defensores da teoria que postula que a invasão do Iraque se vai transformar num segundo Vietnam. Hoje, como então, a opinião pública norte-americana demorou algum tempo a condenar e a exigir de forma sistemática o fim do conflito. A divulgação da chacina perpetrada pelo exército americano em My Lai, associada à crescente condenação popular da guerra e às derrotas militares no terreno marcou, em 1968, o ápex da condenação do povo americano à agressão do povo vietnamita e dos seus aliados da península da Indochina.
Provavelmente a América não voltará a viver um ano horribilis como o de 1968: o aprisionamento pela Coreia do Norte de um navio espião americano e da sua tripulação no mar do Japão, a ofensiva vietcong do Tet no Vietnam, o assassinato do Dr. Martin Luther King e do Senador Robert Kennedy, a cada vez maior contestação à guerra do Vietnam, os tumultos de rua na Convenção Democrática em Chicago e a eleição de Nixon sucederam-se em catadupa. E quando se pensava que mais nada de mau poderia já acontecer ao povo americano, eis que este assiste, horrorizado, à descrição do massacre de My Lai.
 Guerra Vietnam Chacina Massacre My-Lai EUA 1968
 Guerra Vietnam Chacina Massacre My-Lai EUA 1968  Guerra Vietnam Chacina Massacre My-Lai EUA 1968
 Guerra Vietnam Chacina Massacre My-Lai EUA 1968
Perpetrado pela Charlie Company, 1st Battalion, 20th Infantry Regiment, 11th Brigade, Americal Division, a chacina de My Lai também conhecida como "Song My Massacre" aconteceu em 16 de Março de 1968 em plena Ofensiva do Tet numa pequena aldeia da provincia sul-vietnamita de Quang Ngai suspeita de albergar o 48º Batalhão do NLF. No massacre pereceram 504 civis vietnamitas, alguns dos quais mutilados, e, para a posteridade, além das vítimas e do horror do massacre, ficaram William Laws Calley Jr., o oficial que ordenou o ataque, a política americana no Vietnam e toda a cadeia hierárquica de comando do exército incluindo o chefe supremo, o Presidente Americano.
Para a história ficou também, mas pelo motivo inverso, Hugh C. Thompson, Jr. piloto de helicóptero em missão de reconhecimento que, ao presenciar o sucedido, ameaçou disparar as metralhadoras do seu helicóptero sobre as forças americanas se a chacina de civis vietnamitas não parasse naquele instante. Assim pôs cobro a um dos mais tenebrosos episódios de toda a guerra do Vietnam e da história dos EUA.
http://blog.uncovering.org/archives/2007/10/a_chacina_de_my.html

domingo, 6 de dezembro de 2009

conflitos indiretos que dividiu o mundo entre 1945 e 1991

Principais protagonistas da Guerra Fria, período histórico de conflitos indiretos que dividiu o mundo entre 1945 e 1991, Rússia e Estados Unidos estão próximos de chegar a um acordo sobre uma nova estratégia de redução de armas nucleares.

O último acordo, chamado de Tratado Estratégico de Redução de Armas (Start, na sigla em inglês), firmado em 1991, expira seu prazo de validade neste sábado (5). A Casa Branca espera que um novo acordo seja negociado antes do dia 10, a tempo de ser anunciado antes que o presidente Barack Obama receba o prêmio Nobel da Paz.

Foto: AFP

O presidente da Rússia, Dimitri Medvedev, e seu colega dos EUA, Barack Obama, durante encontro em 10 de julho na cúpula do G8 na Itália. (Foto: AFP)

Um acordo nuclear reduziria o impacto negativo de Obama receber o prêmio logo após ter anunciado o envio de mais 30 mil homens à Guerra do Afeganistão.

Duas principais potências nucleares do mundo, EUA e Rússia (então parte da União da Repúblicas Socialistas Soviética - URSS) disputaram influência política, econômica e ideológica e polarizaram boa parte do mundo em dois grandes blocos capitalista e socialista no período compreendido entre o fim da Segunda Guerra, em 1945, e a dissolução da União Soviética, em 1991.

O conflito é chamado de “Guerra Fria” porque as duas potências não travaram uma guerra direta, mas iniciaram a corrida pela construção de um grande arsenal de armas nucleares. Os dois países também se envolveram indiretamente numa série de conflitos regionais, apoiando os seus aliados nas guerras da Coreia (1950-1953), do Vietnã (1962-1975) e do Afeganistão (1979-1989), entre outras.

Divisão
Ao final da Segunda Guerra, a Alemanha derrotada foi dividida em quatro áreas de ocupação pelas potências vencedoras. Três anos depois, Estados Unidos, Reino Unido e França resolveram criar um Estado único provisório e fazem uma reforma monetária a fim de controlar a inflação galopante da Alemanha Ocidental e aumentando o isolamento da União Soviética, que controlava a quarta região.


Em julho de 1947, os EUA anunciaram o Plano Marshal, que ofereceu ajuda econômica para reconstruir os países aliados da Europa. Em resposta, a URSS lançou o Comecon, para garantir auxílio mútuo entre os países socialistas em 1949.

No mesmo ano, os soviéticos explodiram sua primeira bomba nuclear, dando início à chamada “corrida nuclear”. EUA, Canadá e os princiais países da Europa capitalista criam a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), aliança militar que visava proteger os países membros em caso de ataque do leste europeu.


Apoio a guerras
Nos anos 50, os Estados Unidos endureceram a perseguição aos ideais soviéticos com a criação, pelo senador John McCarthy, de um comitê de investigação de atividades comunistas. Todo aquele que apoiass ou cometess atos considerados comunistas ficava sujeito a prisão ou extradição.

A política de contenção às atividades comunistas também levou os EUA a apoiar duas guerras: a da Coreia, que resultou na criação de duas nações, uma capitalista no sul, e outra comunista no norte, e a do Vietnã, que também tem participação direta da URSS, e da qual os EUA saem derrotados. Os dois países também testaram suas primeiras bombas de hidrogênio, e a União Soviética reuniu seus aliados na Europa Oriental no Pacto de Varsóvia, em 1955, uma espécie de resposta à Otan.

Corrida espacial
O desenvolvimento tecnológico na produção de mísseis e foguetes também levou as duas potências a uma corrida espacial. Em 1957, a URSS lançou o Sputinik I e o Sputinik II, primeiro artefatos humanos a orbitarem a Terra. O segundo levou a bordo a cadela Laika. No ano seguinte, os EUA entrariam na disputa com o lançamento do Explorer I.

Em 12 de abril de 1961, o russo Yuri Gagarin deu uma volta completa ao redor do planeta, tornando-se o primeiro homem a entrar em órbita. A resposta americana viria em 1969, com a transmissão, ao vivo por redes de televisão, da chegada do primeiro homem à lua.

Muro de Berlim
Em terra a disputa endureceu ainda mais com a construção, em 1961, do Muro de Berlim, que dividiu a fisicamente a cidade (e boa parte do mundo) em zonas de influência capitalista e comunista. Em 1962, a tensão entre as duas potências chegou à beira do conflito aberto quando os EUA descobrem a construção de bases militares soviéticas em Cuba.

O episódio conhecido como crise dos mísseis terminou com um acordo, mediado pelas Nações Unidas, em que a URSS se compreteu a retirar da ilha todas as suas armas e os Estados Unidos a acabar com o embargo a Cuba – medida que não foi cumprida até hoje.

A fim de tentar conter a corrida armamentista, Estados Unidos, União Soviética e Grã-Bretanha assinaram em 1963 um tratado de não-proliferação de armas nucleares. O jogo político começou a ganhar novos contornos em 1968 e 1969 com ideias de abertura política na Tchecoslováquia e na Alemanha.

Distenção
Em 1973, as duas potências concordaram em desacelerar a corrida armamentista. O acordo é selado simbolicamente com um encontro no espaço entre as aeronaves Apollo 18 e Soyouz 1, na primeira missão conjunta entre os dois países, em 1975.

Quatro anos mais tarde, no entanto, os ânimos voltaram a se exaltar com a invasão soviética ao Afeganistão. Na batalha contra a ocupação soviética, os EUA apoiam a resistência, que mais tarde dariam origem ao Talibã.

Perestroika e Glasnost
Mikhail Gorbachev chegou ao poder em 1985 pregando a necessidade de reformar a URSS. Ficaram conhecidas as duas principais medidas lançadas pelo líder soviético: a Perestroika, plano de reforma econômica que previa a diminuição do orçamento militar e à conseqüente retirada do Afeganistão e a Glasnost, reforma política que garante liberdade religiosa e transparência.

Gorbachev também se encontraria, em 1986, com o então presidente americano Ronald Regan, em 1986. Os dois assinariam, no ano seguinte, um tratado para eliminação de armas e desativação de grande parte das ogivas nucleares.

O ano de 1989 foi marcado por uma série de revoltas populares pedindo o fim do regime socialista, que se espalham por Polônia, Hungria, Tchecoslováquia, Bulgária, Romênia. O processo culmina com a queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro, que para muitos marcou o fim da Guerra Fria.

http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1404165-16107,00-GUERRA+FRIA

domingo, 29 de novembro de 2009

General britânico diz que Blair deve responder por crimes de guerra
Por Redacção

Michael Rose defende que Tony Blair deveria comparecer em tribunal. O general britânico gostaria de ver o antigo primeiro-ministro do Reino Unido responder por crimes de guerra no Iraque.

A investigação em curso sobre aquela guerra está a clarificar algumas coisas. Avança Rose, como exemplo, segundo Daily Mail: os serviços secretos britânicos informaram que o Iraque tinha destruído o seu arsenal químico, dez dias antes da invasão do país.

Christopher Meyer, antigo embaixador britânico nos Estados Unidos, já tinha denunciado o «pacto de sangue» entre Blair e George W. Bush, com o fim de derrubar Saddam Hussein, um ano antes do início da guerra. A dificuldade terá sido o pretexto.
17:22 - 28-11-2009
 
http://www.abola.pt/mundos/ver.aspx?id=184591

domingo, 22 de novembro de 2009

Governo britânico sobre as lições aprendidas com a guerra no Iraque revela erros "atrozes"

22/11/09 - 09h08 - Atualizado em 22/11/09 - 09h05

Relatório britânico sobre guerra no Iraque revela erros "atrozes"





Londres, 22 nov (EFE).- Um relatório do Governo britânico sobre as lições aprendidas com a guerra no Iraque revela erros "atrozes" na preparação da invasão para derrubar Saddam Hussein, em 2003, e tramitar a posterior ocupação.

O documento, citado hoje pelo jornal "The Sunday Telegraph", vem à tona dois dias antes do início da investigação pública sobre a participação do Reino Unido na guerra, que contou com o apoio do então primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair.

Segundo este jornal, o relatório contém entrevistas com altos comandantes do Exército, que explicam que as tropas britânicas foram expostas a "riscos significativos" por causa de uma operação "precipitada", que "mão teve coerência e recursos".

São centenas de páginas com dados classificados como "secretos", nos quais os responsáveis da invasão no terreno expressam sua frustração e insatisfação com o Governo.

Esta preparação precipitada foi porque Blair quis manter em um pequeno círculo seus planos para apoiar os Estados Unidos na invasão ao Iraque, que, segundo este documento, começaram em fevereiro de 2002, 13 meses antes do início da operação militar, e que tinham como objetivo principal derrubar Saddam Hussein.

Durante todo o ano de 2002, Blair reiterou publicamente que o objetivo do Reino Unido era "desarmar o Iraque, não mudar seu regime", e que não havia preparativos em andamento para invadir o país enquanto continuassem os esforços diplomáticos para que o deposto regime de Bagdá renunciasse a seu inexistente arsenal de destruição em massa.

O general Graeme Lamb, responsável das forças especiais durante o conflito, diz textualmente no relatório: "estive preparando a guerra desde o início de 2002".

Os documentos revelam que a invasão contou com recursos quase ridículos, ao ponto de algumas unidades terem entrado em combate com cinco balas para cada soldado.

Também evidencia que muitos militares tiveram que ser deslocados até a zona de combate em aviões de companhias aéreas comerciais, levando seu armamento como bagagem de mão, que em alguns casos foi confiscada nos aeroportos.

O sistema de rádio durante o combate parava de funcionar todos os dias às 12h por causa do calor e a rede de provisões mostrou erros tão ridículos como o de fazer chegar até o deserto "um contêiner cheio de esquis", segundo um dos militares.

O Foreign Office só criou um departamento para tramitar o pós-guerra três semanas antes do início da disputa, que elaborou planos que "não continham detalhes sobre que fazer depois que Bagdá tivesse caído", o que causou vários problemas.

Os chefes militares qualificaram de "atroz" e "horrorosa" a falta de apoio do Governo à reconstrução, o que, nas palavras de alguns comandantes, fez com que "se perdesse uma oportunidade de ouro" para ganhar o apoio da população iraquiana.

Também denuncia a quase absoluta ausência de planos para salvaguardar a segurança dos civis iraquianos e para cumprir as obrigações de guerra da Convenção de Genebra.

A análise do combate conclui que foi "um êxito militar significativo", mas admite que foi contra "um Exército de terceira" e que não teve a preparação necessária para enfrentar os problemas dos cruciais 100 primeiros dias da ocupação. EFE


http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1387893-5602,00-RELATORIO+BRI

sábado, 14 de novembro de 2009

Chavistas protestam contra bases americanas na Colômbia

Chavistas protestam contra bases americanas na Colômbia
CARACAS, Venezuela — Milhares de seguidores do presidente venezuelano, Hugo Chávez, participaram nesta sexta-feira em Caracas e San Cristóbal, capital do estado fronteiriço de Táchira, de uma passeata contra a instalação de bases americanas na Colômbia através do acordo militar entre Bogotá e Washington.
"Colombianos, acordem! Neguem-se a assinar este acordo, vocês não estão sozinhos", exclamou Ana Elisa Osorio, dirigente do governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), organizador da passeata, na qual participaram membros do executivo venezuelano e o ministro das Relações Exteriores, Nicolás Maduro, e de Comércio, Eduardo Samán.
"Nós os venezuelanos, desde a Revolução bolivariana, estamos atentos para sermos um suporte", afirmou Osorio.
Os manifestantes carregavam cartazes com mensagens como "Não queremos que a Colômbia seja o Israel da América Latina", "Não às bases ianques na Colômbia" e "Não queremos guerra, fora, bases".
"Eles (os colombianos) é que estão buscam a guerra, trazendo armas. A América Latina não quer uma guerra", destacou um dos manifestantes.
Domingo passado, Chávez pediu aos militares e ao povo venezuelano que se preparem para a guerra diante da ameaça que, segundo ele, representam as bases militares americanas, embora dias depois tenha negado que queira provocar um conflito armado com a Colômbia.

http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5g-EE6d541b5k42qPSldfbFeJ63XQ

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

"ameaças de guerra" da Venezuela

08/11/09 - 23h00 - Atualizado em 08/11/09 - 23h00

Colômbia diz que levará "ameaças de guerra" da Venezuela à ONU e à OEA





Bogotá, 8 nov (EFE).- O Governo da Colômbia anunciou hoje que levará as "ameaças de guerra" lançadas pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, ao Conselho de Segurança da ONU e à Organização dos Estados Americanos (OEA).

"A Colômbia não fez nem fará um só gesto de guerra à comunidade internacional, muito menos a países irmãos", diz um comunicado divulgado pela Presidência, acrescentando que o Governo "mantém sua disposição ao diálogo franco" para sair da crise com a Venezuela. EFE

http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1371343-5602,00-COLOMBIA+DIZ+QU

domingo, 8 de novembro de 2009

Álcool. Infelizmente Lícito

Álcool. Infelizmente Lícito


 

O alcoolismo e todas as demais dependências químicas, ao contrário das outras doenças, é uma patologia coletiva, pois ataca e afeta profundamente todos aqueles que estão ligados afetivamente ao usuário. O usuário é chamado de "dependente" e pais, avós, cônjuges, namorados, irmãos, etc...são chamados de "codependentes".
Esta é uma das dificuldades no manejo desta doença, pois de nada adianta tratar apenas o usuário. A família também precisa se tratar, mudar de conduta, deixar hábitos antigos. De nada adianta querer que o filho deixe de beber se a família mantém barzinho em casa e todos bebem socialmente. Jamais esquecer que quem bebe social...mente. O exemplo não é mais apenas uma maneira de educar: é a ÚNICA maneira de educar. Pais e professores alcoólatras e fumantes esquecem disso, lamentavelmente.
O alcoolismo é uma dependência devastadora, pois destrói o dependente física e psicologicamente, além de levá-lo à ruína financeira, social e familiar. É comum o alcoolista ficar solitário, pois em certos casos a família esgota sua energia, suas finanças e adoece de tal forma que não vê outra solução senão a de abandonar o dependente à sua própria sorte.
É inútil pensar que a dependência é um desvio de caráter, que é uma vergonha para a família e coisas deste tipo. É uma doença, está registrada no CID (Código Internacional de Doenças). É uma patologia incurável, progressiva e fatal, se o dependente não tiver um manejo adequado. Analogia: o diabetes é uma doença crônica incurável, mas se o doente se conscientizar disso, se mantiver rigidamente longe do açúcar, fizer uma dieta adequada e seguir todos os conselhos médicos, morrerá de outra doença e jamais de diabetes. O mesmo ocorre com o alcoólatra: ele terá de usar de todos os recursos e motivações para se manter longe da sua droga para o resto da vida. E isso é uma tarefa difícil de cumprir.
Por isso, surgiram os grupos de mútua ajuda, uma feliz iniciativa de Bill e Bob, dois norte-americanos (um médico e outro, corretor da bolsa de valores de Nova Iorque) que fundaram os Alcoólicos Anônimos, mais conhecidos por AA. Os AAs foram fundados há mais de 70 anos e hoje estão presentes em quase todos os países do mundo, com notáveis resultados na recuperação de alcoólatras. Resultados reconhecidos pelos médicos e psicólogos. Tanto é verdade que os profissionais da medicina, nos hospitais, recomendam ao alcoolista que está por receber alta que trate imediatamente de frequentar um grupo de AA.
A partir dos AAs, surgiram dezenas de outros grupos de mútua ajuda: NA, NARANON, CCA, etc...cada um com seus objetivos próprios, mas todos seguindo o mesmo programa de "12 passos" criados por Bill e por Bob. Existe uma farta literatura sobre este tema disponível nas boas livrarias e também junto aos próprios grupos que funcionam na cidade.
Obedecendo a uma sistemática semelhante, existe o chamado "Amor Exigente", ligado à PACTO - Pastoral de Auxílio ao Toxicômano, da Igreja Católica, com reuniões para dependentes e familiares, além das comunidades terapêuticas para internação (as chamadas "fazendas"), nas quais o dependente de álcool ou de outras drogas cumpre uma internação de nove meses.

A identidade dos frequentadores dos AAs é mantida no mais total anonimato, assim como o teor de seus depoimentos das reuniões. Os grupos se mantém às suas próprias custas e são terminantemente recusadas ajudas financeiras, de qualquer tipo, vinda de estranhos ao grupo.
Independente do tratamento, internação, terapia com psiquiatras e psicólogos, a frequência aos grupos de AA é reconhecida por estes profissionais como de imprescindível necessidade para a manutenção da abstinência do dependente. Os profissionais e paramédicos que atuam nos estabelecimentos que tratam de alcoolistas, reconhecem claramente que os AA conseguem verdadeiros milagres, pois  existem alcoolistas que estão abstinentes do álcool (de "cara limpa" no jargão popular) há mais de vinte anos.
É uma luta para toda a vida. Mas que vale a pena.


JAMES PIZARRO
Professor aposentado da UFSM
Voluntário da PACTO - Pastoral de Auxílio ao Toxicômano

Muro de Berlim 20 ANOS DEPOIS

8 de novembro de 2009.

REVOLUÇÃO PACÍFICA E EXITOSA

A queda do Muro de Berlim 20 ANOS DEPOIS

A ALEMANHA VIVEU UMA VERDADEIRA REVOLUÇÃO, PACÍFICA E EXITOSA

Quando, em 1989, caiu o principal símbolo da Guerra Fria, o Muro de Berlim, o mundo se viu diante de uma oportunidade única para se redescobrir. No entanto, tem sido necessário até hoje um imenso esforço para integrar essa nova situação à ordem política e ao dia a dia das sociedades.

Assim, novos e velhos conflitos se sobrepuseram, com perigosas heranças e arriscados recomeços. Isso não se refere apenas aos países europeus, trata-se de um fenômeno mundial. O fato é que não presenciamos o “fim da história”, como previu apressadamente Francis Fukuyama.

A experiência de 1989, para muitos jovens, já pertence a um passado que, no dia a dia, traduz-se apenas, literalmente, aos souvenirs daquela época. Principalmente por essa razão, os últimos meses têm sido marcados, sobretudo aqui na Alemanha, mas também na França e em outros países, por um esforço no sentido de dar atualidade a esse passado, com o compartilhamento de lembranças e experiências.

Muros como divisores de mundos existiram não somente em Berlim. Infelizmente, eles continuam a existir entre Estados Unidos e México, Israel e Palestina, Coreia do Norte e Coreia do Sul, Chipre turco e Chipre grego, para mencionar apenas os mais notórios.

Há, ainda, muros que não são de pedra nem de arame farpado, como os que separam a Ucrânia da Europa Central e a África da península Ibérica e Itália. Os dois impedem as pessoas de tentarem uma nova vida na Europa.

As fronteiras têm uma ambivalência histórica na medida em que os muros sinalizam não apenas a divisão ou o isolamento, mas também proteção. A Alemanha Oriental não chamou o Muro de Berlim, cinicamente, de “proteção antifascista”?

Para a Alemanha, a principal consequência da queda do Muro de Berlim foi a reunificação, uma verdadeira revolução alemã, pacífica e exitosa. Com a reunificação, a Alemanha chegou às suas verdadeiras fronteiras depois de tantas idas e vindas. A Alemanha tornou-se Alemanha sem todas aquelas provisoriedades e aspas.

Os temores, principalmente dos franceses e ingleses, de que uma Alemanha reunificada e forte pudesse novamente ameaçar a estabilidade da Europa, mostraram-se infundados. Após um breve “intermezzo” preto-vermelho-amarelo, a Alemanha voltou a se concentrar no europeísmo que havia abraçado logo após a guerra.

Para que despertasse algum sentimento patriótico, a “Wende” (ou virada, como também é aqui chamada a reunificação) chegou, historicamente, tarde demais. Nem a Copa do Mundo de 2006 foi capaz de reacender, como muitos pensavam, algum sentimento patriótico. A euforia que eu próprio pude testemunhar aqui era pelo futebol mesmo.

Ocorre que, em 1990, no momento em que a Alemanha se tornou finalmente uma nação plena, o Estado-nação, pelo menos aqui, já era visto como um modelo ultrapassado. As experiências anteriores da Alemanha como Estado-nação foram negativas para si própria e para seus vizinhos.

Assim, ao surgirem, no pós-guerra, duas Alemanhas, a República Federal da Alemanha passou a se ver como um Estado “pós-nacional”, e a República Democrática Alemã abraçou o internacionalismo.

Como resultado, a Alemanha passou a ser considerada pelos próprios alemães, em grande medida, como uma etapa intermediária do desenvolvimento desse espaço geográfico em direção a uma identidade transnacional, europeia.

Com grande entusiasmo, a Alemanha sacrificou o marco alemão no altar da União Europeia, com igual entusiasmo abriu as fronteiras para o Leste e os alemães tornaram-se os europeus por excelência. Não se pode esquecer, por outro lado, que a Alemanha é uma nação tardia e que a noção de “cultura alemã” é anterior ao Estado-nação que, por sua vez, surgiu na forma de dois blocos, o da Prússia luterana e o da Áustria católica.

20 anos após a queda do muro, a Europa está novamente diante de um momento histórico. Assim como em 1989, o Ocidente e o Leste se reencontraram, e neste ano o Tratado de Lisboa da União Europeia entrará finalmente em vigor.

O tratado tem muito a ver com aqueles dias históricos em Berlim há 20 anos, pois, com a queda do muro, aumentou expressivamente o número de membros da União Europeia, sem que ela contasse com meios para facilitar a administração desse clube ampliado. Com o Tratado de Lisboa, a EU disporá dos instrumentos que permitirão uma presença mais efetiva no mundo e uma melhor coordenação entre seus membros. Sem dúvida, um importante legado de 1989.
ROBERTO COLIN | Diplomata, ministro-conselheiro da Embaixada do Brasil em Berlim


http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&s

sábado, 7 de novembro de 2009

PORTUGAL DE UILTRAMAR 1962

novembro 06, 2009

Guerra Colonial - 'Nunca pedimos desculpa'

Manuel José Homem de Mello, figura ligada ao Estado Novo, que em 1962 defendeu uma solução política para o Ultramar, estranha que Portugal tenha "sempre razão"

Foto «Diário de Notícias»
Manuel José Homem de Mello, figura ligada ao Estado Novo, expressou ontem a sua estranheza por Portugal ser "o único" actor política na cena internacional que "não pede desculpa".
"Os EUA pediram desculpa pelo Vietname. A Igreja Católica pediu desculpa pela Inquisição [e] pelas Cruzadas. Todo o mundo pede desculpa. Portugal não pede desculpa a ninguém. Acho isto uma coisa extraordinária", pois "Portugal enganou como os outros", considerou Manuel José Homem de Mello, sentado ao lado do ex-Presidente da República Mário Soares, no lançamento da reedição do livro de 1962 - Portugal, o Ultramar e o Futuro - que, segundo o professor Paulo Otero (apresentador da nova edição) "é a primeira obra" escrita por "alguém do interior do regime" do Estado Novo que "põe em causa a política ultramarina de Salazar".
Segundo Homem de Mello, Portugal "podia ter sido o primeiro Estado colonial] a sair do Ultramar e foi o último" a deixar as suas colónias. "Perdemos a guerra, que podíamos não ter feito. Perdemos o Ultramar, quando podíamos ter ficado se tivéssemos saído a tempo e horas."
Para Mário Soares, o livro agora reeditado "é histórico e pioneiro" por falar - "em 1962", realçou - na "necessidade de uma solução para o Ultramar que era política e não militar". Recorde-se que Homem de Mello tinha sido deputado à Assembleia Nacional entre 1957 a 1961, assumindo depois e até 1964 as funções de assessor político do Presidente da República Craveiro Lopes. Voltaria a ser deputado entre 1969 e 1974.
Paulo Otero assinalou ainda que "a História deu dramaticamente razão aos receios manifestados" por Homem de Mello no livro, onde sustentou que "se não fo[ss]em os portugueses a dar autonomia" às colónias, "a emancipação surgir[ia] contra nós".
Por Manuel Carlos Freire «Diário de Notícias»
Publicado por Jorge Santos - Op.Cripto em novembro 6, 2009 04:22 PM | 

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

evitar guerra civil

Candidato afegão desiste para evitar guerra civil

por LUMENA RAPOSOHoje
Candidato afegão desiste para evitar guerra civil
Abdullah Abdullah abandonou a segunda volta das presidenciais mas não apelou ao boicote nem recusou a hipótese de partilha de poder. Uma atitude que o Ocidente aplaudiu e que terá mesmo forçado.
"Não é possível um escrutínio transparente", disse Abdullah Abdullah ao justificar, ontem, a sua decisão de não disputar a segunda volta das eleições com o Presidente cessante Hamid Karzai, no próximo sábado, dia 7. Esta decisão terá sido recebida com alívio por responsáveis ocidentais, preocupados com um aumento da violência talibã durante o escrutínio. Mas não só: analistas revelam que uma vitória de Abdullah significaria a guerra civil.
Falando perante anciãos tribais e antigos líderes mujaedines - oriundos na sua maioria da região tajique do Norte do Afeganistão -, reunidos numa grande tenda montada no ocidente de Cabul, Abdullah contou como lhe fora difícil tomar a referida decisão. Com a voz embargada pela emoção e procurando conter as lágrimas, adiantou que o fazia em "protesto contra as acções ilegais do Governo e da Comissão Eleitoral".
Abdullah, que pediu aos seus apoiantes para manterem a calma e não saírem à rua, garantiu à imprensa não estar a fazer qualquer apelo a um boicote ao escrutínio. Uma posição que lhe mereceu o aplauso da ONU e de outros responsáveis ocidentais porque, se o fizesse, minaria em absoluto a já frágil legitimidade de Karzai.
Oficialmente, a desistência de Abdullah justifica-se pela recusa de Karzai em demitir três ministros e o responsável da Comissão Eleitoral, responsáveis pela corrupção que se registou na primeira volta do escrutínio. Fontes credíveis avançaram outra explicação: a de Abdullah poder sair vencedor da segunda volta o que mergulharia o país numa guerra civil. Posição claramente verbalizada por Thomas H. Johnson, director de Cultura e Estudo de Conflitos na Escola de Pós-graduação da Marinha americana.
Abdullah é um tajique, tal como 15% da população do país, maioritariamente pastune. Karzai é um pastune, assim como a maioria dos talibãs. Cativar os ditos "talibãs moderados" para a esfera do poder, uma iniciativa que os EUA privilegiam, seria, segundo analistas, impossível de conseguir com um presidente tajique.
Por essa razão e também pelos problemas de segurança que se colocam à segunda volta, tendo em conta as ameaças dos talibãs e o aumento dos seus ataques, responsáveis ocidentais terão pressionado Abdullah para, em vez de desafiar Karzai nas urnas, fazer um acordo de partilha de poder.
Fontes citadas pela imprensa britânica dão conta de que, no sábado de manhã, os dois responsáveis estiveram prestes a fechar um acordo mas, no último minuto, algo correu mal. Abdullah, sem o confirmar ou desmentir, afirmou não estar interessado "num acordo de pastas [ministeriais] mas numa reforma constitucional". É provável que esse tenha sido o obstáculo.
Ontem, ao ser inquirido pela imprensa sobre a possibilidade de um acordo, Abdullah não o rejeitou como o deu a entender ao afirmar que "no Afeganistão, até as pessoas com quem lutamos se sentam e discutem connosco."
Em Cabul debate-se a segunda volta e os EUA dizem-se prontos a trabalhar com o novo presidente.

http://dn.sapo.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1

domingo, 25 de outubro de 2009

20 anos

Saiba mais sobre a guerra na Bósnia

Em 1915, proclamou-se o Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, que incluía a Bósnia e a Herzegóvina. O país foi rebatizado de Reino da Iugoslávia em 1929, após um golpe de Estado autoritário em que comunistas e adversários da hegemonia sérvia foram perseguidos.

Liderados por Josip Broz Tito, os comunistas chegariam ao poder em 1941, após organizarem, com apoio dos aliados, a resistência guerrilheira aos nazistas, que haviam tomado o país. Ao término da guerra, o país manteve-se unido como uma federação de repúblicas, uma das quais era a Bósnia-Herzegóvina.

Após a morte de Tito em 1980, o Poder Executivo foi assumido por um organismo colegiado, com representação de todas as repúblicas e rotação anual da Presidência. Mas, em vez de pacificar as rivalidades entre as entidades federadas, a medida pareceu exacerbá-las.



Foto: Arquivo / AFP

Soldado norte-americano durante ocupação de tropas internacionais na Bósnia-Herzegóvina para garantir o cumprimento do acordo de Dayton, em 1996 (Foto: Arquivo / AFP)

A explicação recorrente de atribuir a guerra da Bósnia à desagregação do Estado iugoslavo é, na opinião da antropóloga Andrea Peres, pesquisadora da Unicamp que vive em Sarajevo, "uma forma simplista de ver a história".

"No começo da década de 80, você tinha uma forte crise econômica na Iugoslávia; um grande líder que morre (e Tito era um fator de união); uma Presidência colegiada, além da Iugoslávia como uma confederação de seis repúblicas e duas províncias autônomas, com alto grau de autonomia a partir da década de 70. Começa a ter um debate de abertura para democratização, o que significa fim de um partido único. O nacionalismo pouco a pouco foi sendo alimentado", afirma.

A confluência de fatores, alimentada pela forte propaganda oficial, ajuda a explicar, mas é insuficiente, segundo a antropóloga, para justificar o início da guerra, já que o mesmo não ocorreu em outras regiões que também se dissolveram após a queda do Muro de Berlim, a exemplo da Tchecoslováquia e da União Soviética.

saiba mais


Temendo a onda nacionalista que já chegara à Sérvia, dirigentes croatas e muçulmanos da Bósnia queriam seguir o exemplo de Eslovênia e Croácia, em processo de separação da Iugoslávia. Em outubro de 1991, a assembleia provincial da Bósnia aprovou uma declaração de independência e, em janeiro do ano seguinte, convocou um plebiscito sobre a sucessão.

O referendo para a independência foi aprovado em março e, no mês seguinte, ela foi reconhecida pela União Europeia e pelos Estados Unidos. O conflito se disseminou rapidamente por toda a região. Sob a liderança de Radovan Karadzic, os sérvios cercam a capital bósnia, Sarajevo, e ocupam 70% do país, matando e perseguindo os muçulmanos e croatas a fim de estabelecer uma República Sérvia.
Via satélite
Cidades como Sarajevo, Srebrenica, Zepa, Gorazde, entre outras, tornaram-se enclaves muçulmanos criados para proteger a população civil sitiada e ameaçada. Cenas da guerra eram transmitidas diariamente pela televisão, numa das primeiras grandes coberturas de conflitos armados.

"Podíamos seguir via satélite o calvário de uma população civil exposta a uma violência que, acreditava-se, não voltaria a assolar a geografia europeia: campos de concentração, deportações em massa, assassinatos, cercos a cidades, civis vítimas de franco-atiradores e ataques do exército federal iuguslavo ou de milícias. Isso diante da impotência dos organismos internacionais, dos Estados Unidos, da União Européia...", escreve Omar Ribeiro Thomaz, doutor em Antropologia Social pela USP, no artigo "Bósnia-Herzegóvina: A Vitória da Política do Medo" (revista "Novos Estudos", março de 1997).

Dados da Anistia Internacional e da ONU (Organização das Nações Unidas) falam em milhares de civis e combatentes mortos após serem capturados, além de relatos de tortura, maus-tratos e estupros. Cercada durante quase quatro anos, a cidade de Sarajevo se transformou em símbolo da resistência de um povo acossado pelo conflito.

Foto: Reuters

Radovan Karadzic é auxiliado por policial nesta terça-feira (3) no Tribunal de Haia. (Foto: Reuters)


Acordo
Após diversas tentativas de paz fracassadas, a Otan bombardeou as tropas servo-bósnias. Um acordo de paz começou a ser desenhado em 1995, quando os presidentes Alija Izetbegovic (líder muçulmano da Bósnia), Franjo Tudjman (Croácia) e Slobodan Milosevic (Sérvia) aceitam os termos do documento mediado pelos EUA em Dayton (Ohio).

O acordo, que reconheceu a existência de dois mini-Estados etnicamente puros, após a eliminação física ou expulsão das minorias étnicas, é questionado até hoje.

"Todo mundo aqui fala que o acordo de Dayton legitimou atrocidades que aconteceram durante a guerra. A República Sérvia foi limpa, ocorreu uma limpeza étnica. Cidades inteiras que eram misturadas e agora não são mais. A assinatura [desse acordo] legitimou esse território formado em quatro anos de guerra", diz a antropóloga Andrea Peres, que coleta relatos sobre o conflito em Sarajevo.
Condenação
Para a pesquisadora, a condenação do ex-dirigente sérvio-bósnio Radovan Karadzic, apontado como o mentor do massacre em Srebrenica, pode ser uma das últimas medidas que podem ser tomadass na busca de justiça pelo horrores cometidos durante a guerra da Bósnia, após a libertação, no último dia 7 de outubro, de outra ex-líder dos sérvio-bósnios, Biljana Plavsic.

Representantes de Karadzic, que foi preso no ano passado e deportado para o tribunal internacional de Haia após 11 anos foragido, já anunciaram que ele não comparecerá ao julgamento.